quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ora! Hora...

A manhã é o tempo da mulher, que no ofício de dona de casa, encontra sua utilidade na vida, uma vez que todo lar gira ao seu redor de manhã. A meia dos filhos, a gravata do marido, o cachorro, as plantas... A própria manhã depende dela. As horas se arrastam se estiverem de cama, os maridos se atrasam, os filhos matam aula, o cão ladra e as plantas murcham em desespero. A manhã necessita ser desenrolada.

O anoitecer tem o mesmo significado e os movimentos circulares da colher de pau no preparo da janta parece ser a manivela que faz a lua subir e o sol descer.

Mas a tarde... como é ingrata! Nela se sente perdida e solitária e suas muitas horas parecem alongar-se para além. A tarde é independente e não concede a moça do lar nenhuma oportunidade de interação. Algumas novatas tentam fugir dela com um programa de fofocas, um livro, ou tricô, porém é aí que o entardecer se mostra vingativo e uma fração de segundos torna-se tão perceptível quanto uma mancha de batom no blusão do marido. As mais experientes sentam-se na calçada numa cadeira e esperam pacientemente a passagem dessas horas.

Por fim, nessa luta incansável de ser, matamos a sombra de liberdade expressa no tempo de horas cabais. E, ainda, melhor que a tarde é a madrugada com suas ruas vazias e o céu cheio de estrelas – mas a esta, cada fragmento de segundo cobra sua dívidas ao dia seguinte.

Para quem voa alto não há medidor de tempo capaz de dizer o limite dos minutos.

28 de outubro de 2008
Eric Iglésias

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